Hidrogênio verde e etanol: o melhor dos mundos
- h2contenthub
- 28 de out.
- 2 min de leitura
Nos últimos anos, o termo hidrogênio verde passou a frequentar discursos políticos, cadernos de economia e até conversas de bar. Afinal, quem não quer participar da corrida global por um planeta mais limpo, moderno e, de preferência, elétrico? Mas entre o sonho e o tanque cheio, há muita engenharia, alguma química e, claro, uma boa dose de política energética.
O hidrogênio verde é produzido pela eletrólise da água — um processo simples no conceito, mas caro na prática. Usa-se energia solar ou eólica para separar o hidrogênio do oxigênio, obtendo um gás que, ao ser usado em uma célula de combustível, gera eletricidade sem emitir poluentes. Bonito, elegante… e ainda distante do bolso da maioria. O problema é que armazenar hidrogênio puro exige tanques caros, pressões altíssimas e uma logística que faria qualquer frentista suar frio.

É aí que o Brasil, mais uma vez, pode mostrar que o “jeitinho” pode ser sinônimo de inteligência. Temos o etanol — um combustível líquido, renovável, barato e com uma rede de distribuição já pronta. E o que poucos sabem é que o etanol pode se transformar em hidrogênio dentro do próprio carro, por meio de um pequeno reator chamado reformador. É como se o veículo fabricasse seu próprio combustível limpo, sem precisar carregar cilindros pressurizados.
O processo é de uma beleza técnica rara: o etanol é aquecido junto com vapor d’água e um catalisador, liberando hidrogênio e um pouco de gás carbônico — mas de origem biológica, ou seja, o mesmo carbono que a planta capturou quando cresceu no canavial. Um ciclo quase perfeito. Da cana-de-açúcar nasce o etanol, que vira hidrogênio, que vira eletricidade, que move o carro. E, no fim, a planta volta a capturar o carbono.
Essa tecnologia está sendo testada pela Toyota, em parceria com o IPT, a USP e a Shell, no projeto do Corolla Hybrid Fuel Cell. O carro tem motor elétrico, mas é abastecido com o mesmo etanol do posto da esquina. E tem autonomia de sobra — centenas de quilômetros sem precisar parar. Um carro elétrico com alma brasileira, coração de cana e cérebro de silício.
Piracicaba, por sua vez, tem tudo para ser protagonista nesse novo ciclo. A cidade que já foi símbolo do etanol desponta agora como polo de inovação do hidrogênio verde, unindo universidades, empresas e o setor sucroenergético. É a prova de que sustentabilidade não é papo de ambientalista sonhador — é estratégia de desenvolvimento.
Se há um combustível capaz de unir o campo e a indústria, a ciência e a economia, ele certamente cheira a cana. O carro elétrico movido a etanol mostra que o futuro pode ser limpo, nacional e, por que não, otimista. Basta que a política pública tenha coragem de acelerar — porque o tanque, felizmente, a gente já tem.
Rafael Jacob é Mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP e membro da bancada dos Comentaristas da Rádio Educadora de Piracicaba.



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