A COP-30 terminou. E agora, José?
- h2contenthub
- 27 de nov.
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Durante os 12 dias do evento, Belém do Pará recebeu 2.371 profissionais de imprensa credenciados, representando 1.090 veículos de comunicação de todos os continentes. A cobertura intensa da mídia alavancou o debate climático no mundo inteiro. Isso é fato.
Os simpatizantes do governo Lula celebram: dizem que o Brasil liderou uma discussão global inédita sobre o fim dos combustíveis fósseis e que a conferência reuniu delegações de 195 países, montando na Amazônia uma das maiores e mais complexas estruturas já criadas para uma conferência da ONU.

Já os críticos, menos eufóricos, apontam que a declaração final não trouxe um cronograma claro para abandonar petróleo, gás e carvão — ignorando os alertas científicos sobre a urgência do tema. Reclamam também da desorganização, dos problemas de segurança, da presença maciça de lobistas que colocaram o lucro acima da proteção ambiental e da baixa participação de movimentos de base e lideranças comunitárias.
Independentemente do tom de cada narrativa, algumas perguntas ficaram no ar: na sua casa, quantas vezes o assunto clima entrou no almoço de domingo? No trabalho ou na mesa de bar, quanto tempo vocês gastaram falando dos resultados da COP-30? E, mais importante: o que você, pessoalmente, pretende mudar em seu comportamento depois de tudo que viu e ouviu?
O silêncio diante dessas perguntas é a resposta mais honesta — e preocupante. Exceto quem organizou o evento ou lucrou diretamente com ele (os donos de pousadas e hotéis de Belém estão fechando 2025 com sorriso largo), a COP-30 passou em branco para a imensa maioria dos brasileiros.
Quando pressionada, a população repete o discurso politicamente correto: “sou contra combustíveis fósseis, quero energia limpa”. Mas essa convicção evapora em minutos. Basta a gasolina estar alguns centavos mais barata que o etanol para o consumidor escolher o derivado de petróleo — mesmo sabendo que o etanol é renovável, reduz emissões e é uma das soluções que o Brasil já tem na prateleira.
Precisamos lembrar o básico: as mudanças climáticas são causadas principalmente por atividades humanas que aumentam os gases de efeito estufa — queima de carvão, petróleo e gás, desmatamento, produção industrial e agropecuária intensiva. Tudo isso retém mais calor na atmosfera e acelera o aquecimento global.
O debate climático precisa sair das salas com ar-condicionado e ganhar as ruas, as escolas, as universidades, as igrejas, os sindicatos, os clubes de bairro. Só quando entendermos como o calor extremo já pesa no bolso de todo mundo — na conta de luz, no preço da feira, nos leitos lotados do pronto-socorro — é que algo vai mudar de verdade. Enquanto a discussão ficar restrita a ambientalistas e políticos de plantão, nada de novo acontecerá no horizonte.
Maurício Cantoni é jornalista, diretor da plataforma H2 Content Hub.


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