COP-30: o anfitrião estragou a festa
- h2contenthub
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O Brasil estava pronto para surfar a onda da realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-30), que acontecerá em Belém do Pará, entre 10 e 21 de novembro. Um evento que prometia atrair investimentos internacionais em áreas como energia limpa e tecnologia ambiental, além de ratificar o protagonismo do país nas negociações climáticas globais e no desenvolvimento de fontes de energia não poluentes.
Mas o roteiro mudou na última segunda-feira, 20/10, quando ecoou a notícia de que a Petrobras recebeu aval do Ibama para perfurar um enorme poço exploratório na região da Foz do Amazonas. O Governo Federal comemorou a decisão, afirmando que a exploração da Margem Equatorial, que avaliará a existência de petróleo e gás no local, representa o futuro da soberania energética do país.

Assim, de uma hora para outra, o anfitrião estragou a festa. O discurso nacional que favorecia a produção de fontes de energia limpas, capazes de descarbonizar nossos processos produtivos em larga escala, desmoronou diante das enormes cifras que as reservas na Foz do Amazonas podem representar para a economia – especialistas estimam uma produção de até 1,1 milhão de barris de petróleo por dia. É muita grana envolvida.
Havia um consenso entre cientistas e ambientalistas de que, diante da inegável dependência da sociedade dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás), o ideal seria investir em matrizes alternativas, como energia solar, eólica, hidrelétrica e biocombustíveis, com destaque para o hidrogênio (H2) produzido a partir do etanol, uma fonte promissora de energia limpa não só para o setor de mobilidade, mas também para outros segmentos da indústria.
Porém, a força do poder econômico destrói qualquer discurso politicamente correto. Basta lembrar que, em 2025, há uma onda mundial de cancelamentos e adiamentos na produção de hidrogênio como fonte renovável de energia nos continentes americano, africano e europeu. Nesse cenário, a China se consolida como o maior produtor (responsável por 65% da produção mundial) para atender à sua crescente demanda por energia alternativa.
Podemos dizer que a COP-30 perdeu o sentido, pois seus organizadores pretendiam dar um passo importante na política de eliminação gradual dos combustíveis fósseis, responsáveis pela emissão dos gases de efeito estufa, que favorecem o aquecimento global e causam o aumento da temperatura em todas as partes do mundo.
Em vez disso, o Governo Federal tentará justificar e pacificar a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, o que, por si só, representa uma ameaça ambiental direta a uma das regiões com maior biodiversidade do planeta. É triste perceber que a COP-30 pode acabar antes mesmo de começar.
Maurício Cantoni é jornalista, diretor da plataforma H2 Content Hub




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